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Texto da aula pública Aula Pública Multidão e Organização, Prof. Homero Silveira Santiago – 20/11

Multidão e organização

Nossa situação: capitalismo global

Novidade histórica: presença do capitalismo por toda parte; pela primeira vez na história, o modo de organização da vida dos seres humanos é a mesma por todo o globo (prof. Francisco Alambert).

Quais as implicações disso? Força do capital, evidentemente; tanto no que se refere à organização da vida econômica, lógica da mercadoria, mercantilização, quanto (nos últimos tempos de maneira explícita até no centro) no que se refere à vida política. Neste último aspecto, vale frisar que a capitalismo tem perpetrado golpes, derrubando descaradamente governos que (pior que fossem) tinham sido eleitos: Grécia, Itália. Incompatibilidade entre capitalismo e democracia (até mesmo a formal: Sarkozy indignado com proposta de referendo na Grécia).

Entretanto, precisamos ver as coisas por outro lado também. O capitalismo está por toda parte, mas também por toda parte ele é questionado; por toda parte o estado atual de coisas é acantoado por forças diversas: Chile, Europa, EUA, Israel, países árabes (em certa medida), aqui no Brasil. É como se certas estruturas que permitiram a ascensão do capitalismo global e permitem o seu funcionamento também permitissem a sua crítica generalizada. Não quero dizer que todos se ponham a combater o capitalismo, mas que vozes diversas, em vários países, se põem a questionar, colocam em suspeita o estado de coisas vigente. Já é muito. E é interessante notar que tais protestos e suspeitas são totais, contra o sistema em sua totalidade, e globais.

Em suma, o capitalismo global, talvez por sua própria organização, permite o surgimento do anticapitalismo ou do não-capitalismo, especialmente (o que interessa aqui) na figura de um novo sujeito coletivo: multidão.

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Transcrição da aula pública do Vladmir Safatle

Aula Pública n° 03 com Prof° Vladmir Safatle em 26/10/2011

“Na verdade vocês são uma peça na engrenagem que se montou de uma maneira completamente inesperada e imprevisível em várias partes do mundo. Existem certos momentos na história onde um acontecimento aparentemente localizado, regional, tem a força de mobilizar uma série de outros processos que vão ocorrendo em várias partes do mundo. Ou seja, as ideias quando elas começam a circular desconhecem espaço, não conhecem as limitações do espaço, elas constrõem um novo espaço. E de uma certa maneira, vocês aqui são uma peça de uma ideia que aos poucos vai construindo um novo espaço, através dessas mobilizações mundiais que tocam várias cidades, Nova York, Cairo, Túnis, Madri, Roma, Santiago e agora São Paulo. Gostaria de lembrar para vocês um exemplo que me parece bastante interessante, de como uma ideia pode ignorar o seu espaço original. Existe um fato histórico, muito impressionante e que nos toca de uma maneira relativamente próxima, por que diz respeito a uma coisa que hoje o Brasil esta envolvido, que é a revolução no Haiti em 1804.

Foi a primeira revolução feita por escravos, escravos que se libertaram do domínio francês. Aconteceu um fato bastante impressionante no interior dessa história que é mais ou menos o seguinte. Em 1793, a Assembléia Nacional Francesa, Assembléia Revolucionária Francesa – graças aos jacobinos – resolveu abolir a escravidão nas colônias. Era o resultado de um princípio, princípio da igualdade radical. Se nós defendemos a igualdade radical não é possível que a igualdade valha apenas nesse país e não valha em outro lugar, ela deve ser incondicional, deve desconhecer espaço e deve desconhecer tempo, então ela vale tambám para as colônias. Quando Napoleão assume o poder, tenta rever esse decreto, ou seja, fazer com que a escravidão voltasse a operar nas colônias. Os haitianos se sublevam, e Napoleão manda tropas ao Haiti. E acontece um dos fatos mais impressionantes da história nos últimos 200/300 anos. No momento da guerra, quando as tropas francesas estão de um lado e as tropas haitianas do outro, os franceses comecam a ouvir, cantado do outro lado, a Marselhesa – o hino francês, hino da revolução francessa. Isso arrebentou moralmente com as tropas francesas, eles perderam a guerra. Começaram a se perguntar ‘Afinal de contas, contra quem estamos lutando? Nós estamos lutando contra nós mesmo, contra nossos ideiais que agora se voltam contra nós. Por que na boca desses ex-escravos esses ideais sao mais verdadeiros do que na nossa própria boca.’

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