A “geração Seattle” e a “geração de acampantes”

Escrito por Manolo, publicado no Passa Palavra
http://passapalavra.info/?p=48007
A análise do passado e do presente é imprescindível, e tem como objetivo
não apenas saber do futuro, mas sabê-lo para, conhecendo suas
tendências, agir imediatamente para que o indesejável não venha. Por Manolo

"Com muita frequência, entre um período histórico e outro dez anos podem
decerto ser tempo suficiente para revelar as contradições de um século
inteiro. Portanto, às vezes temos que compreender que nossos
julgamentos, nossa interpretação e mesmo nossas esperanças podem ter
sido completamente equivocadas – equivocadas, e só."
Marlon Brando, na pele do economic hitman inglês Willam Walker, no filme
Queimada!, de Gillo Pontecorvo (1969)

Com o recente movimento dos acampamentos, muitos da assim chamada
“geração Seattle” voltaram não apenas a manifestar-se publicamente em
defesa das mobilizações, mas a sentir-se novamente em casa nas ruas
junto com outros mais novos que constroem espaços de militância nas
praças e espaços públicos de todo o mundo.

Sou, eu mesmo, integrante da dita “geração Seattle”. Mais de dez
anos se passaram desde os primeiros Dias de Ação Global em 1998 e 1999,
quando achávamos – todos nós – que era agora ou nunca. As esperanças
daqueles anos de mobilização intensa entre 1999 e 2001 foram abafadas à
força de muita porrada, gás pimenta, prisões e mortes. Alguns
recolheram-se às suas memórias, outros tantos debandaram sabe-se lá para
onde, mas considerável quantidade segue nas lutas de hoje e participa
como pode.

“Mas”, perguntaria um leitor intrigado, “por que ser tão rancoroso
lembrando dessas coisas logo no começo de um artigo sobre um movimento
tão jovem, alegre e vibrante quanto o dos acampamentos e ocupações de
praças e espaços públicos?”

Até o momento, os acampamentos são, para uma geração que começa agora a
envolver-se em atividades coletivas, de um lado, e na luta
anticapitalista, de outro, algo que para nós da “geração Seattle”
representaram tanto o levante zapatista em 1994 quanto a manifestação
contra a Rodada do Milênio da OMC em 1999: um ponto de viragem, um marco
histórico, um chamado à ação – chamem-no como quiserem, mas para as
jovens mentes ativistas de então aquilo nos marcou como ferro em brasa.
Alguns tomam esta semelhança como conclusão a ser defendida como posição
política séria, quando não é nada além do ponto de partida para a
reflexão e intervenção sobre o presente. Pululam artigos sobre a
maravilha dos debates, sobre o inusitado das ocupações de espaços
públicos, sobre o charme de um ou outro participante, sobre a retomada
da “cidadania” por parte dos que lá estão, sobre a existencialmente
refrescante experiência da construção destes espaços políticos…

Qualquer de nós presentes nas lutas de 1999/2001 deve lembrar-se
do quanto fomos elogiados por retomarmos ações militantes, até que por
volta de 2001 começaram a cobrar-nos “maturidade” (como se fossemos
crianças brincando com fogo), “foco” (como se nossas lutas não o
apontassem), “pauta” (como se não a conhecessem) e coisas do tipo.
Construíram o Fórum Social Mundial por sobre a história de nossos corpos
marcados, e o recrudescimento da repressão em nível global após os
eventos do 11 de setembro dilacerou o que restava de nossos esforços.
Para muitos, foi preciso começar tudo de novo.

A reflexão sobre aqueles dias tumultuosos de dez anos atrás, os rumos
posteriores daqueles companheiros (e ex-companheiros) e a vivência
destes dez anos de aparente marasmo impõem mudar o eixo dos debates
sobre os acampamentos. (Digo “aparente” marasmo porque as lutas de lá
para cá fragmentaram-se tanto que sequer se podia imaginar as ligações,
reais ou virtuais, que seguiram existindo sob a aparência da calmaria e
impulsionaram tantas lutas locais.) As razões dos manifestantes ou o
elogio de sua iniciativa, aqui, saem de cena; entram algumas perguntas
sobre o fazer-se das ocupações, tentando encontrar aí diferenças e
pontos comuns com aquilo que vivemos há tanto e tão pouco tempo.

Os acampamentos pretendem-se permanentes, transitórios, ou não pautam
esta questão? Para a “geração Seattle” a mesma questão talvez tenha sido
pautada de outra maneira. Dada a forma de mobilização eminentemente
transitória que escolheu (manifestações e assembleias paralelas, no
tempo e às vezes no espaço, as cúpulas gestoriais mundiais), o que
precisava ser permanente não era a presença nos territórios de luta, mas
a mobilização em rede, para que pudéssemos deliberar, mesmo
precariamente, sobre os próximos passos. Os debates sobre as formas de
protesto que cada grupo pretendia empregar naqueles dias – marchas,
ações contra alvos específicos (bancos, lojas, lanchonetes etc.) –
tentavam garantir a segurança de cada grupo segundo a tática escolhida,
mas, finalizadas as grandes manifestações, cada qual retornava a seu
espaço de ação (coletivo, movimento social, rede, sindicato, partido,
entidade estudantil, grupo de afinidade etc.) para retomar as
atividades, embora com novo impulso e conhecendo incontáveis outros com
quem buscar construir relações de solidariedade militante. Nos
acampamentos de hoje, e até o momento, a permanência em determinado
espaço físico, mesmo com curtos hiatos, é a forma adotada pelas
mobilizações, o que impõe debater questões como a permanência e/ou
revezamento de pessoas, alimentação, limpeza, resistência contra
investidas policiais, proteção contra clima adverso etc.. Não estaria
também gravitando sobre a cabeça dos acampantes, mesmo à sua revelia, a
dificílima decisão sobre o tempo do protesto, e consequentemente de sua
sustentação material e política? Ou o que se pretende, de fato, é fazer
da praça pública uma ágora grega rediviva, conectada virtualmente com
outras tantas enquanto for possível?

Qual a relação dos acampamentos com aqueles que já ocupavam o território
onde se constroem? Para a “geração Seattle”, a questão era, de certa
forma, simples. Salvo se já se tratasse de ativistas residentes na
própria cidade onde se dariam os protestos – e foram centenas pelo mundo
inteiro – ao definirmos uma zona de protestos e ao ocupá-la com ações
diversas, das mais “militantes” às mais “bem-humoradas”, sabíamos que as
relações com as pessoas que lá estavam seriam transitórias, existentes
apenas enquanto se desse a reunião de cúpula que pretendíamos
inviabilizar. Em alguns casos, as manifestações ocorriam em trajetos já
tradicionalmente marcados por ações políticas diversas, o que terminava
diluindo a potência do protesto; noutros lugares, pouco experimentados,
vivemos situações inusitadas. No caso dos acampamentos, entretanto, é
impossível pensar na construção de um espaço político sem perguntar-se
algo neste nível e lançar esta pergunta tanto a fatos aparentemente
incontroversos – como as razões para a escolha do local – quanto ao
cotidiano do acampamento. Lá já estavam não apenas os vizinhos formais –
lojas, restaurantes, lanchonetes, prédios comerciais ou residenciais,
oficinas, fotocopiadoras, igrejas, museus, terminais ou pontos de ônibus
etc. – mas sobretudo aqueles para quem a rua é espaço de sobrevivência e
existência: catadores de material reciclável, artistas de rua,
ambulantes, camelôs e especialmente aqueles que sequer existem
oficialmente, a julgar pela forma como são tratados pelos Censos: os
moradores de rua. Pelo que tenho visto em relatos, há interessantes
relações estabelecendo-se, mas irão elas além do compartilhar um prato
de comida, do convite à participação ou da solidariedade a casos
emergenciais? De que forma, por exemplo, as defesas jurídicas à
permanência nos espaços públicos pode estender-se aos moradores de rua,
ou aos camelôs que em todas as cidades são perseguidos como a própria
peste, ou aos tantos outros que são obrigados a submeter-se a toques de
recolher oficiais ou oficiosos mundo afora?

Qual a relação dos acampamentos com movimentos sociais formalmente
organizados (sem-teto, sem-terra, sindicatos, pastorais, coletivos
artísticos etc.)? A “geração Seattle” não apenas organizou-se em formas
próprias como também lançou-se abertamente à colaboração com movimentos
sociais vários, e mesmo muitos dentre nós já os integravam
anteriormente. Com a radicalização, inclusive, foi possível construir
pontes antes inimagináveis, como entre o movimento do software livre (em
suas várias vertentes) e os movimentos de luta pela reforma agrária,
entre o movimento das rádios livres e o movimento anti-manicomial, entre
coletivos ativistas e moradores de rua… Houve tensões de parte a parte,
assim como muita ingenuidade; houve dentre nós quem pensou – e o disse
em artigos públicos – que os movimentos correriam às ferramentas que
criávamos como algo imprescindível às suas lutas. Vistas as coisas após
dez anos, a tônica destas relações foi a de irmos até os movimentos como
quem vai prestar-lhes serviços – serviços militantes, mas nem por isto
menos serviços. (Não é de estranhar que muitos dentre nós – eu inclusive
– trabalhem hoje no assim chamado “terceiro setor”, com variados graus
tanto de compromisso militante quanto de picaretagem.) Hoje parece que o
sentido foi invertido, pois sabe-se que em alguns lugares estão se
desenvolvendo relações bastante solidárias dos movimentos para com os
acampados, materializadas no empréstimo de materiais e na presença em
certos eventos mutuamente acordados. É feliz que alguns acampamentos –
não todos – estejam buscando este apoio e que o encontrem, mas isto é
uma solidariedade “de fora para dentro” do acampamento; que formas de
solidariedade “de dentro para fora” do acampamento podem ser articuladas
sem degenerar apenas em “prestação de serviços”? O que se pretende com
estes movimentos além da solidariedade material e de algumas falas
críticas nas assembleias?

Os acampados têm algum tipo de crítica à dependência excessiva da
informática que tem sido sua tônica? A “geração Seattle” foi talvez a
primeira a empregar a internet como instrumento de mobilização, embora
naquela época pouco se dispusesse além de correios eletrônicos, pequenos
sites e grupos. A grande invenção daquele momento foi a estrutura
colaborativa inaugurada pelo Indymedia/Centro de Mídia Independente,
precursora em muitos aspectos das redes sociais hoje empregues como
ferramenta de mobilização: um site aberto à publicação de relatos por
qualquer pessoa que quisesse relatar o que quer que fosse a respeito dos
protestos em que houvesse participado, ou publicar convocatórias, ou
enviar fotos e vídeos etc.. (A rede Indymedia/Centro de Mídia
Independente depois expandiu-se, adquiriu vida própria e segue com suas
atividades.) Esta grande inovação, entretanto, tinha seus limites; em
seus primeiros anos, por sinal exatamente aqueles de mais forte
mobilização, era acessada quase somente por militantes e ativistas
envolvidos com os protestos – com as “nobres” exceções de jornalistas
atrás de fontes fáceis e dos onipresentes serviços de inteligência
policial e militar. Para piorar, a crescente dependência de alguma
técnica de comunicação – internet principalmente – por parte dos
inúmeros grupos, coletivos e outras organizações gerou o fenômeno da
“adhocracia geek”, ou seja, de uma “camada” social detentora de
conhecimento técnico em informática difusa por toda a “geração Seattle”.
Mesmo involuntariamente, a “adhocracia geek” transformou o conhecimento
destas técnicas em meio de concentrar poder, ainda que por pouco tempo.
Hoje, não é novidade para ninguém que a internet tem papel fundamental
para a articulação dos acampantes; mas até que ponto a internet e a
informática serve-lhes de limitação? A dependência de certa “militância
virtual” que “curte” ou “confirma” participação nos acampamentos sem
prestar-lhes qualquer outro apoio prático não arriscaria criar entre os
acampantes expectativas de participação muito mais altas do que aquelas
que são capazes de mobilizar? Não estaria sendo gestada aí, tal como na
“geração Seattle”, uma nova “adhocracia geek”?

Como os acampados têm lidado com as diversas tentativas de cooptação de
sua luta? A “geração Seattle” tentou conscientemente abandonar qualquer
tutela sobre movimentos sociais e qualquer iniciativa que lhes impusesse
uma pauta externa, mas foi rasgada internamente por questões semelhantes
àquelas que tanto criticou – em especial se considerarmos sua forma
preferida de organização, os grupos de afinidade, calcados
explicitamente na extrema proximidade política e pessoal entre seus
integrantes. Eles serviram muito bem como defesa contra o aparelhamento
externo típico das organizações calcadas sobre o leninismo, mas ao mesmo
tempo instauraram novas formas de conflito entre si próprios e outros
grupos de afinidade presentes num espaço de decisão. Da mesma forma,
grupos diferentes podiam articular-se previamente quanto a determinada
pauta e comparecer às assembleias para agir como bloco; em se tratando
de grupos diferentes (embora unidos por um propósito oculto comum),
seria impossível a um participante desavisado percebê-los como tal.
Graças a este artifício, o que antes era uma deliberação prévia por
parte de certos grupos para orientar a assembleia em tal ou qual rumo
poderia passar tranquilamente como uma deliberação democrática, surgida
no calor da hora e tecida em longos debates tendentes ao consenso.
Nisto, os grupos de afinidade diferiram pouco do mal senil do leninismo
de que tanto quiseram se livrar. Hoje, já se tentou de tudo para dobrar
os acampamentos a vontades externas, desde as recorrentes discussões
sobre bandeiras de partidos até o mais simples domínio pessoal, como se
dá em cidades onde os acampantes são poucos, mas os riscos em espaços
“autônomos” seguem os mesmos: tem sido possível aos acampantes
identificar os grupos e os blocos que se formam? Ou seria esta
desconfiança causa de verdadeira paranoia num lugar onde tão poucos se
conhecem previamente e há tantos desejos em jogo? E quanto às tentativas
de cooptação vindas “de fora”, como os acampantes têm lidado com elas?
Como lidar com as tentativas de cooptação vindas da imprensa que tenta
impor, de fora, uma pauta aos acampantes, sob pena de anátema? Como
lidar com as ofertas aparentemente “desinteressadas” de recursos e
infraestrutura vindas do terceiro setor, cuja rejeição decerto fomentará
acusações de “sectarismo” e “inabilidade de diálogo”? Como lidar com
grupos empresariais ligados à economia da criatividade que tentam
capitalizar para si a mobilização tão dificilmente construída?

Os acampamentos pretendem atrair mais pessoas, ou pretendem
manter-se com a quantidade de pessoas que hoje os frequentam? A “geração
Seattle”, na corda bamba entre a ação militante (que pedia linguagem e
prática radicais) e a demonstração mais ampla de suas razões (que pedia
linguagem e prática com maior capacidade de diálogo), viveu
angustiadamente a tensão entre querer a mais ampla participação de todos
nas lutas e o temor causado por certos tipos de ação direta demonizada
pelos meios corporativos de comunicação. Embora houvesse grupos de
afinidade decididamente voltados para qualquer destas alternativas, não
foram poucos os que viveram esta contradição por dentro. Como em meios
ditos “autônomos” a proximidade pessoal tem o efeito adverso de
pressupor como certa a afinidade política, isto foi causa de um
sem-número de “rachas”, brigas, anátemas e mesmo de perseguições, tudo
somando para o esfacelamento das relações coletivas, mesmo quando
algumas relações pessoais sobreviviam ao furacão. Vencemos ao atrasarmos
certas deliberações de cúpula e ao pautarmos novamente, quando não a
derrubada do capitalismo – e é preciso admitir que nem todos da “geração
Seattle” desejavam-na – os efeitos perversos de seu funcionamento àquela
altura; mas fomos derrotados em nossas tentativas de trazer mais pessoas
para a construção de novas relações sociais capazes de subverter em
definitivo o status quo. (Fosse o contrário, se houvéssemos conseguido
construir estas novas relações com amplitude e força suficientes para
derrubar o capitalismo, os acampamentos de hoje talvez nem existissem.)
É curioso como os acampamentos vivem o mesmo problema sob outra forma.
Embora muitos passem por perto, poucos param sequer para dar uma
espiadinha; dentre estes últimos, poucos ficam para conhecer melhor; e
dentre estes, poucos integram-se realmente à dinâmica do acampamento.
Embora pareçam infinitamente menos radicais que os Dias de Ação Global,
sua presença e permanência traz para alguns um misto de estranhamento,
esperança, dúvida e ceticismo com o qual os acampantes ainda não deram
mostras de saber lidar. Mas seriam estas pessoas ditas “comuns” quem os
acampamentos pretendem atrair? Ou os acampamentos são um esforço
conjunto para visibilizar a pauta de movimentos já existentes? Em
qualquer dos casos, como conciliar a linguagem semi-técnica do ativismo
– e quem pensa que o ativismo não cria seu próprio jargão vive na
inocência útil – com aquela destas pessoas ditas “comuns”? Isto é
realmente desejado pelos acampantes?

Como os acampamentos pretendem encaminhar suas reivindicações? A
“geração Seattle” foi muitas vezes acusada de ter apenas uma “pauta
negativa” sem apresentar uma “pauta positiva” – ou seja, de dizer o que
quer destruir ao invés de dizer o que quer construir. A construção
coletiva das mobilizações, o diálogo entre movimentos tão diversos
quanto o dos anarcopunks e o dos camponeses bolivianos, as incontáveis
formas de solidariedade prática, tudo isto era apagado para fazer dos
dias de mobilização um raio no céu azul. Era mais uma tentativa de medir
as mobilizações não pelo que apresentavam de novo, mas pela sua
adaptação a um padrão segundo o qual toda mobilização deve apresentar um
conjunto de reivindicações e negociá-la, paulatinamente, até alcançar
seus resultados – em geral quando já são inócuos. O grupo que fundou o
Fórum Social Mundial não apenas aproveitou-se desta crítica para
criá-lo, como em grande parte foi ele mesmo a veiculá-la e disseminá-la.
E aquilo que foi efetivamente construído pela “geração Seattle” – um
grande esforço pela igualdade, coletivismo e solidariedade entre a
militância – foi desqualificado sistematicamente como “baderna”. Hoje, o
traço marcante de todos os acampamentos é o questionamento crítico a
qualquer rotina que se pretenda estabelecer sem prévia deliberação
coletiva. Ponto para este princípio básico da autogestão – palavra
mágica que circula de boca a ouvido e de teclado a tela entre acampantes
e suas redes de apoio. Segundo as informações que tenho recebido, alguns
querem tirar uma pauta de reivindicações, seja trazendo-as prontas “de
fora” e tentando impô-las aos acampados, seja tecendo-as ponto a ponto
nas próprias assembleias. Outros pretendem que não haja pauta coletiva
alguma, que não haja nenhuma deliberação “em nome” do acampamento.
Todavia, enquanto algumas propostas podem ser imediatamente
implementadas pelos acampantes e seus grupos de apoio, outras, talvez de
construção ainda embrionária nas assembleias, precisam necessariamente
da construção de formas de ação que ultrapassem os limites territoriais
e virtuais dos acampamentos. Talvez seja este o problema mais duro a ser
enfrentado: agora que nos juntamos e chegamos a alguns acordos, como
fazer para tornar real aquilo que projetamos?

***

Há outras perguntas, muitas, tantas quantos são os possíveis problemas.
Algumas sequer são esboçadas nos acampamentos, outras são suas angústias
mais dilacerantes. Não as apresento para fazer qualquer tipo de
interrogatório ou acusação; são tentativas de ver o que temos de
semelhante, nós da “geração Seattle” e estes que ocupam as ruas, para
assim nos apoiarmos melhor, onde quer que estejamos. Digo isto por
princípio político. Para quem se lança à luta anticapitalista, não
importa com que corrente ideológica simpatize ou a qual tradição de
lutas se integre; a análise do passado e do presente é imprescindível, e
tem como objetivo não apenas saber do futuro, mas sabê-lo para,
conhecendo suas tendências, agir imediatamente para que o indesejável
não venha. Estas tentativas de antecipar o indesejável, para serem
eficazes, precisam evitar as generalidades e lançar-se, sem temores ou
expectativas, nos problemas e aparentes questiúnculas que atravessaram
as lutas passadas, formadoras do presente, pois estes problemas e
questões “menores”, tal como o diabo, moram nos detalhes. Mesmo estas
precauções podem mostrar-se infelizmente inúteis, e o esforço de uma
geração inteira de militantes pode terminar mais uma vez indo pelo ralo
das derrotas. Por isto mesmo, analisá-las é tão importante quanto
divulgar as vitórias.

3 comments on “A “geração Seattle” e a “geração de acampantes”

  1. Thiago Gouvea disse:

    Manolo,
    É revigorante ver surgir numa onda essas ações políticas não-partidárias de massa, onda que chega ao Brasil. A luta por justiça social em sua versão século 21 – uma nova chance de se reinventar. Entretanto, um aspecto do seu texto me pareceu inaceitavelmente retrógrado: a falta de eficiência da linguagem!
    Pra que uma iniciativa auto-organizada como essa tenha sucesso, é preciso que as partes se comuniquem clara e objetivamente. É assim em qualquer outro canto da natureza, como mostra esse sujeito: http://www.ted.com/talks/lang/por_br/steven_strogatz_on_sync.html
    Abraço e boa sorte!

  2. Rosabel disse:

    So that’s the case? Quite a reevlitaon that is.