Carta de Solidariedade da Acampada Quito

O movimento indignado é APARTIDÁRIO, PACIFISTA E ASSEMBLEÁRIO;
não admite líderes, símbolos ou bandeiras que não sejam as do próprio movimento, pela firme crença de que esses elementos atomizam a força do povo.

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Exibição do Documentário Budrus – Veja como foi (02/11)

O documentário da diretora brasileira Júlia Bacha retrata a bem sucedida ação do grupo Solidariot, de iniciativa não violenta que obteve sucesso no impedimento da construção do Muro de Segregação na Palestina, unindo homens e mulheres de vários grupos políticos diferentes.

Duração: 1h.30min. (aprox.)

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=ff7rScVrbos[/youtube]

Veja as fotos de como foi a exibição:

Hoje, 16h., Sarau Encontro de Utopias

Convidamos aos poetas, músicos, ativistas, indignados e sonhadores, artistas ou arteiros, para participar do Sarau Encontro de Utopias no OcupaSampa, no Vale do Anhangabaú, sob o Viaduto do Chá. Tragam seus poemas, sonhos e causas, suas canções, adereços e instrumentos musicais (facebook).

Nota pública sobre a ocupação do canteiro de obras de Belo Monte

O canteiro da Usina Hidrelétrica de Belo Monte foi ocupado no início da manhã desta quinta-feira por cerca de 400 indígenas, pescadores, ribeirinhos e agricultores contrários à construção da obra devido aos graves impactos ambientais e violações de direitos humanos que marcam o processo de licenciamento do empreendimento. A decisão de ocupar o canteiro de obras foi aprovada coletivamente, em assembleia, por 700 representantes de comunidades locais que participaram de um seminário contra Belo Monte realizado esta semana na cidade de Altamira, no Pará.

Os manifestantes notificaram, através de carta e contato pessoal, representantes do Palácio do Planalto e outras autoridades do governo federal sobre a ocupação da usina. Segundo o documento enviado, “diante da intransigência do governo em dialogar e da insistência em nos desrespeitar, ocupamos o canteiro de obras de Belo Monte e trancamos seu acesso pela rodovia Transamazônica. Exigimos que o governo envie para cá um representante com mandado para assinar um termo de paralisação e desistência definitiva da construção de Belo Monte”.

Após 15 horas, o canteiro de obras da usina hidrelétrica de Belo Monte foi desocupado com a chegada de dois oficiais de Justiça e três advogados do consórcio Norte Energia, acompanhados de um destacamento da Policia Militar, munidos de um interdito proibitório ajuizado pela empresa.  Após informar os manifestantes sobre a ordem judicial, que tinha poderes de reintegração de posse, os oficiais de Justiça destacaram que a Tropa de Choque estava nos arredores, pronta para agir.  É vergonhoso que a mesma Justiça, que tem se mostrado cada vez mais morosa e suscetível a pressões políticas no julgamento das 12 Ações Civis Públicas movidas pelo Ministério Público Federal (MPF) contra as ilegalidades e violações de direitos humanos no processo de licenciamento ambiental de Belo Monte, tenha expedido o interdito proibitório favorável à empresa em apenas algumas horas.

A ação inédita de ocupação do canteiro de obras de Belo Monte partiu de uma decisão soberana e autônoma de pescadores e indígenas da Bacia do Xingu, e foi considerada por estes o marco de uma nova aliança na luta contra a hidrelétrica. O reconhecimento mútuo e o acordo firmado esta semana entre os segmentos que mais sofrerão com a destruição do Xingu foi visto como uma nova etapa, mais forte e ampla, da luta contra Belo Monte.  A parceria entre indígenas e pescadores, inédita, mostrou que os povos do Xingu estão unidos em defesa do rio, da natureza e do seu modo de vida tradicional.

A nossa resistência contra este projeto de destruição chamado Belo Monte permanece inabalável. A ocupação foi um recado claro para o governo Dilma Rousseff de que a luta pela proteção do Xingu está mais viva do que nunca. Se o governo federal insistir em continuar violando os nossos direitos, dos povos indígenas e comunidades tradicionais, outras ações de resistência virão.

Altamira (PA), 28 de outubro de 2011.

Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira – COIAB
Comissão Pastoral da Terra – CPT
Conselho Indigenista Missionário – CIMI
Movimento Xingu Vivo para Sempre – MXVPS

http://www.cimi.org.br/site/pt-br/?system=news&conteudo_id=5905&action=read#

Transcrição da aula pública do Vladmir Safatle

Aula Pública n° 03 com Prof° Vladmir Safatle em 26/10/2011

“Na verdade vocês são uma peça na engrenagem que se montou de uma maneira completamente inesperada e imprevisível em várias partes do mundo. Existem certos momentos na história onde um acontecimento aparentemente localizado, regional, tem a força de mobilizar uma série de outros processos que vão ocorrendo em várias partes do mundo. Ou seja, as ideias quando elas começam a circular desconhecem espaço, não conhecem as limitações do espaço, elas constrõem um novo espaço. E de uma certa maneira, vocês aqui são uma peça de uma ideia que aos poucos vai construindo um novo espaço, através dessas mobilizações mundiais que tocam várias cidades, Nova York, Cairo, Túnis, Madri, Roma, Santiago e agora São Paulo. Gostaria de lembrar para vocês um exemplo que me parece bastante interessante, de como uma ideia pode ignorar o seu espaço original. Existe um fato histórico, muito impressionante e que nos toca de uma maneira relativamente próxima, por que diz respeito a uma coisa que hoje o Brasil esta envolvido, que é a revolução no Haiti em 1804.

Foi a primeira revolução feita por escravos, escravos que se libertaram do domínio francês. Aconteceu um fato bastante impressionante no interior dessa história que é mais ou menos o seguinte. Em 1793, a Assembléia Nacional Francesa, Assembléia Revolucionária Francesa – graças aos jacobinos – resolveu abolir a escravidão nas colônias. Era o resultado de um princípio, princípio da igualdade radical. Se nós defendemos a igualdade radical não é possível que a igualdade valha apenas nesse país e não valha em outro lugar, ela deve ser incondicional, deve desconhecer espaço e deve desconhecer tempo, então ela vale tambám para as colônias. Quando Napoleão assume o poder, tenta rever esse decreto, ou seja, fazer com que a escravidão voltasse a operar nas colônias. Os haitianos se sublevam, e Napoleão manda tropas ao Haiti. E acontece um dos fatos mais impressionantes da história nos últimos 200/300 anos. No momento da guerra, quando as tropas francesas estão de um lado e as tropas haitianas do outro, os franceses comecam a ouvir, cantado do outro lado, a Marselhesa – o hino francês, hino da revolução francessa. Isso arrebentou moralmente com as tropas francesas, eles perderam a guerra. Começaram a se perguntar ‘Afinal de contas, contra quem estamos lutando? Nós estamos lutando contra nós mesmo, contra nossos ideiais que agora se voltam contra nós. Por que na boca desses ex-escravos esses ideais sao mais verdadeiros do que na nossa própria boca.’

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Hoje, 19h., Conversa Sobre "Menin@s de Rua"

@s menin@s estão nas ruas, nas portas dos bancos e nas capas de jornal. Chorando e odiando, sofrendo e gozando.
Estariam excluídos de onde e incluídos onde?
Como pensarmos uma nova configuração social, um novo mundo pautado na liberdade, levando em consideração a necessidade de limites? Qual o alcançe do papel desempenhado pelo Estado nas estruturações familiares? Como pensarmos o processo de inclusão social sem violar o princípio das diferenças subjetivas numa democracia?

Conversação sobre educação, laço afetivo-social e políticas públicas para “menin@s de rua” com Luanda Francine / Educadora e Psicanalista

Hoje às 19h. no Acampa Sampa | Ocupa Sampa.

PMs no Anhangabaú

Neste momento, cerca de três mil policiais militares estão realizando sua formatura aqui do nosso lado, no largo do Anhangabú.

Para o evento, nosso acampamento foi cercado por grades de ferro, mas nós não nos calamos. Demos um alto e claro “Não nos representa” de presente ao governador de São Paulo Geraldo Alckmin, que obviamente está presente para prestigiar a sua tão bem treinada polícia, que atuará discriminando a população mais pobre e garantindo que os mais ricos e poderosos continuem deitados em berço esplêndido.

Também levantamos vários cartazes, como pela abertura dos arquivos da ditadura militar e lembrando aos policiais de que eles também fazem parte dos 99%.

Algumas fotos:

 

 

 

 

Mais fotos em:
http://www.flickr.com/photos/janelinha/sets/72157628022145740/
http://www.facebook.com/media/set/?set=a.111358512309005.16158.100003045700125&type=3

Lista de necessidades atualizada

Nós do ocupa sampa gostaríamos de agradecer a todos e todas que doaram alimentos ou objetos ao acampamento.
Desde sabádo, dia 15 de outubro, recebemos muitas pessoas dispostas a doarem seu tempo ou algumas coisas que não lhe farão falta ao acampamento e para nós isso demonstra a importância de nossas bandeiras e a urgência de se construir a democracia real no Brasil.

Se você está a fim de doar alguma coisa, dê uma olhada na nossa lista de necessidades, e não pense duas vezes antes de vir aqui embaixo do Viaduto do Chá, conversar, debater, nos conhecer e curtir um som. Construindo coletivamente o Acampa Sampa. Lembrando que não recebemos doações em dinheiro — este é um príncipio de nosso movimento.

Doações são sempre bem vindas. Traga algo, aproveite para trocar umas ideias e esclarecer dúvidas, com certeza você tem motivos de sobra para ir e ficar. Aqui nós temos voz!

Lista de algumas coisas que estamos precisando:

Última atualização: 29/10 22:00

Dúvidas ligar para 11 4114-0525

GERAL

– traga suas camisetas neste domingo para estampá-la! :)
– bambu
– barbantes
– barracas, cobertores e isolantes térmicos para camping
– cartolinas
– extensões e benjamins (T)
– fitas adesivas largas
– livros, revistas etc. (para a biblioteca)
– lata de lixo
– lona preta
– roupas, meias, calçados, roupas íntimas
– walkie-talkie – rádio
– tinta para pintura
– tinta spray (preto, de preferência)
– pilhas AA
– pilha alcalina  D  (muitas – para megafones)
– grampeador de pressão (pode ser emprestado)

COZINHA / ALIMENTAÇÃO

– açúcar
– botijão de gás, mangueira e válvula
– leite
pão URGENTE
– achocolatado em pó
– água mineral (galão de 20 litros) URGENTE
– armário fechado para a dispensa
– batata
– bolachas
– caixa plástica grande
– colher de pau
– detergente
– enlatados (milho, ervilha, etc)
– esponja de aço
– facas boas para cozinha
– feijão
– fogão industrial 2 bocas
– frutas URGENTE
– verduras
– legumes (beringela, abobrinha e abóbora — são mais fáceis de cozinhar por aqui)
– hortaliças
– ovos
– liquidificador
– manteiga / margarina URGENTE
– massa de bolo
– molho de Tomate
– óleo URGENTE
– panela de pressão
– pano de prato
– saco de lixo
– temperos
– vinagre URGENTE
– farinha de trigo

Não precisamos nesse fim de semana de batata e cebola (recebemos uma grande doação)

Obs.: Não trazer carne. (difícil conservação)

FARMÁCIA / MEDICAMENTOS

– anti-inflamatório
– curativos (band-aid)
– escovas de dentes
– luva médica
– pasta de dente
– sabonetes, xampus, etc
– relaxante muscular
– remédio para gripe
– vitamina C

MÍDIA

– HD externo URGENTE!
– internet 3g URGENTE!
– cabo p10 para microfone
– computador com entrada fire wire
– data show
– microfone

Nota de Repúdio às ações policiais ocorridas nesta semana em SP

Ocupa Sampa vem a público manifestar repúdio às ações policiais que se intensificaram em São Paulo nos últimos dias.

A ação da Polícia contra os camelôs

Nesta semana, a população paulistana acompanhou a ação violenta da Polícia Militar contra as manifestações dos camelôs no centro de São Paulo. A ação transformou as ruas em palco de uma verdadeira guerra. De um lado a Polícia Militar armada, e de outro, trabalhadores informais com uma palavra de ordem: “Queremos trabalhar”.

A repressão é uma tentativa de criminalizar o vendedor ambulante e de criminalizar o direito constitucional ao trabalho e à manifestação. As manifestações dos trabalhadores ambulantes são legítimas e não podem ser passíveis de violência por parte do Estado. Dentro de uma democracia, nenhuma lei municipal ou estadual pode se sobrepor às garantias constitucionais de manifestação.

Os trabalhadores estão questionando a ordem econômica excludente. Por falta de trabalho, são obrigados a vender nas ruas os produtos das grandes empresas e das corporações. Nas ações policiais, tanto de apreensão quanto de repressão, a destruição das mercadorias representa perdas somente para os trabalhadores, enquanto os lucros estão assegurados às empresas e às corporações.

A existência do trabalho informal mostra, de maneira explícita, como o sistema econômico nunca funcionou para grande parte da população.

A ação da Polícia contra os estudantes da USP

Nesta quinta-feira (27/10), a incursão da Polícia Militar na Universidade de São Paulo (USP) escancarou os verdadeiros interesses de um pequeno grupo de poderosos. Os espaços da universidade são historicamente locais de resistência aos regimes não democráticos e que violam os direitos humanos.

Diz-se que a presença da PM no Campus tem como pretexto a defesa da integridade dos estudantes e trabalhadores. Não é verdade! A presença da Polícia Militar na USP tem como objetivo criminalizar o livre pensamento, vigiar e perseguir estudantes e trabalhadores, restringir espaços livres e democráticos, além de reprimir qualquer iniciativa que se coloque contra o atual projeto de privatização da universidade.

A ação policial na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas(FFLCH) não foi uma ação pontual, a polícia vêm reprimindo estudantes e trabalhadores em vários departamentos da universidade, entre eles a ECA e a Poli.

A presença da PM no Campus e seus verdadeiros interesses precisam debatidos entre a comunidade acadêmica e a sociedade. A universidade possui uma relação mútua com a sociedade. A PM no campus não é um assunto somente da esfera acadêmica, é assunto de toda a sociedade. Por isso, o livre acesso da sociedade aos espaços e debates da universidade são essenciais, e é isso que a presença policial tenta coibir.

Uma polícia que reprime ideologicamente, é uma polícia que criminaliza todos os setores da sociedade que contrariam os interesses de um pequeno grupo de poderosos que não os representam.

Dizer SIM à democracia é dizer NÃO à militariação da Polícia

A repressão e a perseguição aos movimentos sociais e aos trabalhadores não terminaram com o final das ditaduras no Brasil. Tais políticas continuam vigentes, mesmo em uma suposta democracia. A Polícia Militar é um dos pilares da criminalização da pobreza, do livre pensamento e dos trabalhadores.

A estrutura de poder e a estrutura militar das polícias de todo o Brasil continuam iguais, mesmo depois da chamada abertura política. A atuação de policiais infiltrados nos movimentos sociais, por exemplo, permanece como método amplamente utilizado pelos seus órgãos de inteligência.

O militarismo, que faz as polícias se assemelharem ao Exército, é resquício direto dos regimes militares que assolaram o país durante décadas. A estrutura e hierarquia militar torna impossível o controle público sobre o uso da força policial. O Brasil é um dos únicos países do mundo a possuir polícias militares nas ruas.

A corrupção e a impunidade das forças policiais não são fruto de um problema de caráter do trabalhador policial. Elas são pautadas pela manutenção e reestabelecimento de uma ordem. A “ordem” em que o 1% da população controla os outros 99%. Por isso, os 99% dizem NÃO ao controle militar da força policial e exigem o controle público de suas ações, de forma clara e transparente.

Somos um movimento não violento e, além do repúdio ao uso de armas letais por parte dos policiais, repudiamos o uso de armamentos chamados de “não letais”, como bombas de gás, balas de borracha e cacetetes. Há diversos estudos que comprovam a letalidade de armamentos como bala de borracha ou bomba de efeito moral. Spray de pimenta é extremamente nocivo à pessoas com problemas respiratórios, além de ser abortivo, é considerado como arma de guerra pela Anistia Internacional. O uso dessas armas por parte da policia é um abuso contra a sociedade e ao direito constitucional de manifestação.

Vivemos um momento de efervecência internacional e também um momento intenso em São Paulo. É hora de gritar contra os que ignoram a existência da Constituição Federal e que reprimem os setores que promovem o debate e a construção participativa da sociedade.

Coluna Do Leitor – Sobre A Ocupação Do Anhangabaú

Em 15 de outubro de 2011, atendendo ao chamado global de mobilização puxado por indignados de todo o mundo, me uni ao que na época era um pequeno grupo que ocupou o vale do Anhangabaú em São Paulo, mais precisamente a área em baixo do viaduto do chá. Estamos acampados a mais de 10 dias e não somos mais tão poucos. Somos muitos e muito plurais. Somos punks, índios, anons, moradores de rua, estudantes, trabalhadores, professores, permacultores e muito mais do que isso.

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Nosso movimento tem sido visto com certa desconfiança, pois não nos enquadramos direito em antigos padrões da esquerda. Tal desconfiança se traduz na nossa proposital dificuldade em responder certas perguntas como: “por que nos unimos?”, “por que aqui e agora?” e “aonde pretendemos chegar?”. Neste texto não pretendo responder a tais perguntas, mas arriscar uma explicação de porque temos tanta dificuldade em respondê-las.

Não custa mais uma vez repetir que este texto corresponde à minha visão como alguém que vivenciou a acampada, conversou e aprendeu com diversos outros tantos acampados por mais de uma semana, mas que de maneira nenhuma pretende representar a opinião destes.

Nosso movimento é bastante plural e, apesar de termos um manifesto consensuado, nossas pautas são muito amplas e difusas para servir de explicação sobre os principais motivos de porque nos unimos. Isso é muitas vezes colocado em forma de crítica: como um movimento pode sobreviver se não tem pautas firmes comuns? Ao meu ver o motivo real que nos une nos fornece uma excelente pista para responder a essa pergunta.

Compreendo que o que nos une, não só nós em São Paulo, mas também no movimento em Wall street, em Madri e em diversos outros pelo mundo, é uma insatisfação com a estrutura da representação política. Assim, me parece que nossa dificuldade em elaborar reivindicações claras é consistente com nossa principal bandeira “democracia real/direta”. Não estamos firmes em nossas reivindicações porque no fundo sabemos que não é uma questão de reivindicar (pra quem reivindicamos se esses não nos representam?), mas de construir todo um novo sistema. Dessa forma, é muito mais consistente que nossas pautas sejam construídas e reconstruídas constante e coletivamente. Isso não significa, porém, que não estamos firmes em certos princípios. Nos enxergamos claramente como um grupo anti-capitalista, apartidário, não-violento, cujas decisões são tomadas de forma dialógica por consenso e que busca a democracia real/direta.

A segunda pergunta também costuma chegar em tom de crítica: não há crise no Brasil agora, logo não há contexto e, portanto, o movimento não deverá durar. Primeiro, não é verdade que não há contexto, o movimento se insere tanto em um contexto internacional de lutas (Espanha, Grécia, Egito, Nova Iorque etc.) como em um contexto local (diversas marchas contra o aumento da tarifa de ônibus, marcha da maconha, marcha da liberdade etc.). Em relação a não estarmos em crise, compreendo que isso é mais uma benção do que uma maldição. A maioria dos movimentos de esquerda até hoje tenderam a ser reativos, ou seja, uma resposta a algum tipo de crise. O fato de nosso movimento não ser reativo, mas construtivo, o abre para uma infinidade de novas possibilidades. Um movimento construtivo não precisa ter pressa para dar respostas. Um movimento construtivo não é necessariamente pautado por um determinado contexto que uma vez mudado dita o fim do movimento. Um movimento construtivo é livre para seguir seu próprio rumo em seu próprio tempo. “Ele não tem limites, não começou aqui e agora e vai terminar ali e mais tarde. É exatamente o que não se constitui nem tem contornos e, assim, incomoda e agride o poder constituído. Ele não tem um dentro, um o que somos e o que queremos. O movimento já está fora, já nasceu como um fora. Ele é a própria membrana entre dentro e fora.”

Algumas vezes somos confundidos com movimentos direitistas contra a corrupção. Evidentemente que somos contra corrupção, mas esse tema nem surge em nossos manifestos ou meios de divulgação. Quando gritamos “Não nos representam!” não é que um ou outro político não nos representa, mas que o sistema político não é capaz de nos representar. Soma-se a isso a compreensão de que a corrupção é inerente ao sistema capitalista, ela é apenas uma face do capitalismo mais frequente em países periféricos. Dessa forma, a luta contra a corrupção entra somente como efeito colateral daquilo pelo que lutamos.

De forma alguma acredito que buscamos solucionar questões pontuais do capitalismo. Muito pelo contrário. Brandamos por democracia direta/real. Nossa concepção de democracia direta, apesar de difusa, certamente não é reformista. Buscamos uma mudança profunda na forma de representação política e temos consciência de que isso é impossível dentro do sistema vigente. Neste sentido, compreendo tal movimento construtivo como muito mais radical do que qualquer movimento pautado em determinada crise pontual.

Por fim, não acredito que precisamos ter um objetivo fixo, pois este está sendo construído no próprio movimento. Esse é um excelente indício de que estamos indo na direção do que quer que compreendemos por democracia real. A partir do momento em que nos tornarmos previsíveis seremos presas fáceis frente ao sistema.

Há quem diga que somos lunáticos lutando contra tudo e contra todos. Acho mais honesto dizer que lutamos contra tudo e, se não com todos, com 99%. Estamos decretando o fim do fim da história. Estamos fabricando tinta vermelha.

[youtube]CyVxefKNx3E[/youtube]—-

Marcio Moretto Ribeiro (@marciomoretto) é doutor em ciências da computação pela USP, pós-doutorando em lógica pela Unicamp e indigesto por parentesco. Esteve acampado durante os últimos dias no Vale do Anhangabaú (@AcampaSampa) e compartilha aqui suas primeiras considerações.

Publicado em: http://www.misturaindigesta.com.br/2011/10/coluna-do-leitor-sobre-ocupacao-do.html